quarta-feira, 8 de maio de 2013

Histórias do Cotidiano - A mulher Nua

  
 
Quem conhece o filme "O homem nu",  baseado no conto de Fernando Sabino, deve imaginar o sufoco que é viver uma situação desse tipo. Agora,  imaginem  uma mulher vivendo esse drama na vida a real! Eu pude presenciar e vou contar pra vocês como tudo aconteceu:
 
 
Naquela tarde, dirigia apressada,  era o primeiro dia da exposição de artes no Centro de Convenções de Salvador, e precisava chegar mais cedo para abrir o stand de pintura em porcelana: Era o meu hobby do momento.
Vinha de Lauro de Freitas, e naquela época o trânsito  era tranquilo,  o fluxo de carros pequeno, e na segunda rótula do aeroporto ainda não existiam os viadutos e as vias de acesso para alguns pontos da cidade.
Havia um matagal enorme bem em frente ao aeroporto e, foi exatamente ali, naquele lugar ermo, onde a qualquer hora do dia podia-se ver meninas a espera de clientes dispostos a pagar por um  programa sexual, que eu avistei aquela figura alva, cabelos negros,  aparentando uns 27 anos, trajando apenas uma calcinha e uma bolsa acobertando os seios.
Me chamou atenção o seu comportamento. Ela  chorava e gritava muito, acenando para os motoristas que passavam  indiferentes ao seu desespero.
Senti uma enorme vontade de ajudá-la, mas exitei,  diante da possibilidade de ser uma armadilha de assaltantes. Mesmo assim, reduzi a velocidade e parei uns cem metros a sua frente e fiquei observando pelo retrovisor. 
Notei que as  únicas pessoas que passavam por ali, era um   senhor idoso e uma criança em trajes bem humildes.  Aos gritos e muito choro, ela pedia ajuda aos dois,   não conseguia balbuciar uma única palavra.

Foi nesse momento que cheguei à conclusão de que ela  tinha sido vítima de assalto.  O idoso continuou o seu caminho, pareceu não entender nada,  e  eu  decidi ajudá-la. Olhei cuidadosamente pra ver se não havia mais ninguém por ali, e voltei até onde ela estava.

Quando parei o carro,  tive a sensação que estava jogando uma boia para  um sobrevivente de naufrágio. Ela entrou com tudo no carro, sem me olhar nem dizer nada, só chorava copiosamente!

Continuei dirigindo, tentando  saber o que aconteceu e procurei acalmá-la. Estava muito nervosa e continuava sem dizer nada, só chorava. Por alguns minutos fiquei sem saber o que fazer diante daquela situação,  estava longe de casa e precisava chegar ao Centro de Convenções o mais rápido possível.  Nesse momento, lembrei de minha irmã que morava em Itapoan e liguei prá saber se havia alguém em  casa, felizmente ela atendeu e eu expliquei o que havia ocorrido.

Passei o meu  celular pra moça , e pedi que digitasse o número de alguém que pudesse ir ao seu encontro, pois eu ia deixá-la com minha irmã. 

Um homem atendeu a ligação e sugeriu  que eu a levasse até a delegacia (ele era delegado). Expliquei que ela estava  praticamente despida e ele concordou em ir ao nosso encontro.

Quando cheguei em Itapoan, minha irmã que é uma pessoa super acolhedora,  já estava na porta, nos aguardando com um roupão e um copo de água na mão.

Nunca esqueci a reação daquela moça quando saiu de dentro do carro  e se vestiu. Era uma outra pessoa, o mundo voltou a ser seu!  Começou a falar , a sorrir, ficou muito a vontade  a partir daquele momento. Como eu precisava  ir embora e tinha certeza que ela estava em boas mãos, me despedi e pedi que ficasse bem. Ela me agradeceu, eu  segui o meu caminho.

Depois que deixei a casa da minha irmã, bateu a preocupação!  Sabe  essas coisas de quem vive em grandes  cidades e só pensa no pior? Pois bem, não pensava em outra coisa, minha irmã sozinha em casa, com aquela  estranha, e ainda ia aparecer uma outra pessoa... Seria aquilo um plano de assalto? De minuto em minuto ligava pra saber se estava tudo bem, até que o tal delegado da polícia federal apareceu  e a levou.
Tudo resolvido, consegui relaxar e saber o que realmente aconteceu. E para minha surpresa, ela não tinha sido vítima de assalto coisa nenhuma.   Disse que pela manhã depois de deixar o filho na escola , no bairro da Graça, foi abordada por uma mulher e dois homens  que a jogaram dentro de um carro e disseram-lhe que ela ia saber o que acontecia com mulher que  se mete com homem casado.  Passaram horas andando de carro e fazendo tortura psicológica, até deixá-la naquele ponto onde a encontrei, naquele estado deplorável. De acordo com o seu relato, ela era namorada do delegado e ele já havia se  separado da mulher.
  
Em resumo, tudo não passou de vingança de uma mulher enciumada.
Verdade ou não, só sei que levei uma bronca do meu marido e de alguns amigos, pelo risco que corri. Mas  não me arrependo não, quando lembro o semblante de alívio daquela moça quando vestiu o roupão, penso que sempre vale a pena se colocar no lugar do outro e tentar ajudar, lembrando sempre que nos dias de hoje, todo cuidado é pouco!
Rosa

               

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