Essa história é do tempo em que aparelho celular só era visto em filmes do Agente 007 e internet era uma palavra totalmente desconhecida para a maioria dos mortais.
Lembro-me que o computador que existia na sede da empresa que eu trabalhava era uma verdadeira geringonça do tamanho de um armário, e o ambiente onde ele estava instalado, tinha uma refrigeração especial: além do ar condicionado, vinha do chão, um vento gelado insuportável, isso garantia o bom funcionamento das máquinas. O espaço era restrito aos funcionários que ali trabalhavam e que por sua vez desfilavam com seus jalecos brancos parecendo verdadeiros cientistas , era de lá que eles controlavam todas as agências do Banco espalhadas pelo nordeste.
E era numa dessas agências, aqui em Salvador que trabalhava o nosso personagem:
Felizardo era aquela sujeito brincalhão, espirituoso. Possuía muito senso de humor, era uma figura engraçada! mas como nem tudo é perfeito, tinha um vício incrontrolável pelo jogo do bicho * e loterias. Não podia ver ninguém comentando que sonhou com um determinado animal, que ele prontamente corria e jogava no bicho. Loteria então! vivia pedindo palpites a um e a outro no intuito de colecionar números da sorte e fazer suas apostas.
Aproveitando-se da ansiedade exagerada de Felizardo que primava pela notícia, um amigo resolveu fazer uma pegadinha.
Como era de praxe, num determinado dia da semana ele ligava cedo pra uma Rádio, cujo locutor era seu amigo, e solicitava em primeira mão, os números sorteados da Quina. Nessa época ainda não existia a Sena. O amigo prontamente lhe atendia, e ele ficava sabendo do resultado antes de todo mundo.
Mas, naquele dia hilário foi diferente: O colega que resolveu fazer a pegadinha e que também era amigo do locutor, copiou os números que Felizardo havia jogado, passou para o amigo da Rádio e pediu que quando o nosso personagem ligasse, ele informasse que os números sorteados foram os que ele havia jogado. E foi o que aconteceu: a partir do 3º número, Felizardo não conseguia conter a euforia e começava a gritar pela sala: EU TÔ RICO, no 4º número EU SOU CAGADO DE SORTE! e no 5º número, já corria para o abraço do chefe. A partir daquele momento, o setor parou. Felizardo não conseguia e nem deixava ninguém trabalhar mais. Alguns colegas que também não sabiam de nada, ficaram extasiados e correram pro abraço. Foi uma festa de fazer inveja aos que comemoraram o penalti que Bágio perdeu para o Brasil na copa de 94! Felizardo era só carinho e alegria com todos, e contrariando a lógica, o chefe foi o que mais recebeu abraço.
Bem, depois de passada toda a euforia chegou a hora fatídica de contar a verdade. Mas como dizer e estragar um momento de tamanha alegria? Para remorso de quem fez a pegadinha, Felizardo não quis acreditar que tudo não passara de uma brincadeira, (que convenhamos, de muito mal gosto), e continuou achando que estava rico. Foram necessárias incontáveis horas de tentativas de convencimento sem sucesso, até que alguém teve a ideia de entrar em contato com a sua esposa, explicar tudo que acontecera, e ainda assim, somente no dia seguinte ela conseguiu definitivamente, fazer com que ele acreditasse, que foi só uma brincadeira.
O lado bom da história, é que graças ao senso de humor de Felizardo , a brincadeira foi entendida e com isso, ele reforçou o prestígio e a amizade que tinha com os colegas e principalmente com o chefe. Mas não pensem que ele parou por aí não. Continuou fazendo a sua fezinha, alimentando a ilusão de que um dia seria o próximo ganhador da Quina.
Rosa D'el Rei
Nota:
O jogo do bicho é uma bolsa ilegal de apostas em números que representam animais. Foi inventado em 1892 pelo barão João Batista Viana Drummont, fundador do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, em Vila Isabel, Brasil.
A fase de intensa especulação financeira e jogatina na bolsa de valoreres nos primeiros anos da república brasileira, imprimiu grave crise ao comércio. Para estimular as vendas, os comerciantes instituíram sorteios de brindes. Assim é que, querendo aumentar a frequência popular ao zoológico, o barão decidiu estipular um prêmio em dinheiro ao portador do bilhete de entrada que tivesse a figura do animal do dia, o qual era escolhido entre os 25 animais do zoológico e passava o dia inteiro encoberto com um pano. O pano somente era retirado no final do dia, revelando o animal do dia. Posteriormente, os animais foram associados a séries numéricas da loteria e o jogo passou a ser praticado largamente fora do zoológico, a ponto de transformar a capital da república(de 1889 a 1960) na "capital do jogo do bicho".
Atualmente, o jogo do bicho continua a ser praticado em larga escala nas ruas da principais cidades do Brasil , não obstante ser considerado uma contravenção pela legislação brasileira.
Wikipédia
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